quinta-feira, 4 de setembro de 2008

The Magic Barrel de Bernard Malamud





Bernard Malamud [1] 1958[i]




Este é um livro de contos[2], mas não qualquer livro. Malamud é um famoso escritor americano, que aborta temas judaicos. Não é uma leitura fácil, muito menos amena, todavia tem um humor ácido, sarcástico e ao mesmo tempo compassivo e profundo, mostrando a vida e as relações humanas: ora o sentimento de culpa ora a busca da felicidade.
The First Seven Years – Feld, um judeu pobre e diligente, sonha com um futuro melhor para sua única filha. Graduar-se em uma faculdade, estudar, crescer. Ela, porém prefere ler os livros emprestados do assistente de seu pai, Sobel, um refugiado de guerra como Feld, que é sapateiro. Os livros são cobertos por anotações interessantes feitas por ele, homem mais velho e vivido.
O pai, fingindo inocência, apresenta-lhe um rapaz pobre, todavia ávido de saber, cursando MBA, apesar de todas as dificuldades. Eles saem, mas não se harmonizam. Quando Sobel sabe do arranjo some do trabalho, deixando uma carga pesada demais para o velho judeu. Quando Feld não agüenta mais a situação terrível em que se encontra vai visitar o assistente, implorando para que ele volte, mas Sobel é irredutível. Não voltará, pois ama Myriam e é correspondido. O amor nasceu dos livros e das anotações, que mostraram a sua alma para a amada. Depois de muita relutância, pois Myriam tem apenas dezenove anos e quem sabe um belo futuro pela frente, ele recua. Sobel volta ao trabalho, martelando, vigorosamente, as solas dos sapatos para o seu grande amor!
The Girl of My Dreams – Um jovem escritor tenta destruir-se, após várias tentativas de publicar seus trabalhos. Desesperado, ateia fogo nos seus manuscritos, que se queimam completamente. Sem comer e sem sair do seu quarto está quase moribundo. Um dia sua senhoria coloca um jornal sob a porta na tentativa de animá-lo. Ele reluta em pegar o jornal, mas, finalmente o faz, lembrando-se que já havia escrito para uma coluna do Globo. Vai direto à mesma coluna e lê um conto que é a sua própria história: uma jovem escritora desiludida, também queima seus manuscritos. Identificando-se com ela envia-lhe uma carta cheia de compreensão e afinidade. A partir daí, surge uma correspondência que lhe devolve a vontade de viver. Ele, finalmente, deseja conhecê-la. Ela não. Acha mais prudente que se comuniquem apenas por cartas. Seria mais carinhoso e imaginativo. Cedendo aos pedidos, marcam um encontro numa livraria. Ele já imagina pela sua voz suave e meiga, como ela seria. Entrando na hora exata no local combinado decepciona-se, pois se encontra vazio, a não ser pelos empregados e uma senhora, sentada à mesa, fazendo pesquisas. Depois de muita espera, conclui que a “senhora é a menina de seus sonhos”. Constrangido aproxima-se dela, que imediatamente se identifica como sua correspondente. Apesar de todo o sonho amoroso desabado, ela é inteligente e sensível, dando-lhe ânimo para voltar a escrever e a viver!
Angel Levine – Um judeu, empobrecido e arrasado pela perda de seus dois filhos e pela doença gravíssima de sua mulher, acredita que é um homem que crê e tem fé inabalável em Deus. Mas não se conforma com o triste destino preparado para ele e se acha injustiçado. Encontrando, no Brooklin, com um corpulento homem negro, limpo e pobre e este se identificando como um anjo negro de Deus oferece-lhe ajuda para seus graves problemas. Contudo Manischevitz não pode acreditar que exista um anjo negro e pobre. Dando-lhe as costas, parte para sua casa. Porém sua vida piora cada vez mais até o insuportável. Lembrando-se do anjo volta pela segunda vez a procurá-lo, já que na primeira não ousou falar-lhe pelo completo ceticismo. Agora, lhe implora por ajuda, mesmo não acreditando que ela venha. Entretanto, ao chegar a sua casa, encontra sua esposa, alegre e disposta. Desde então, as coisas passam a melhorar em sua vida! Que maravilhoso crente que ele era!
The Magic Barrel – Em New York, num modesto e minúsculo apartamento atulhado de livros, vive Leo Finkle, um estudante rabínico, prestes a se formar. Aconselhado por um conhecido, deveria casar-se para ter sua própria congregação. Ele, todavia, nunca pensara no assunto e vivendo longe dos pais, seus únicos parentes, não sabia o que fazer. Depois de dois dias atormentados, resolve recorrer a um matchmaker (casamenteiro), Pinye Salzman, um judeu muito magro, com tristes olhos, mas com uma aparência dígna, apesar do forte cheiro de peixe, que adora comer, exalado pelo seu corpo. Carregando um portfólio, encontra-se com Leo em seu modesto cômodo. Leo, constrangido, adianta-se em lhe dar explicações do porquê dessa forma antiga e convencional de arranjar uma noiva. Muito trabalho e estudo e nenhuma vida social. Nosso matchmaker apresenta-lhe vários “dossiês” com as fichas completas das candidatas a noivas. Em todas elas Leo observa uma armadilha, que Pinye tenta esconder-lhe. Nenhuma o agrada, entretanto, resolve encontrar-se com uma delas, que faz uma série de perguntas muito pertinentes e é ela quem desiste de qualquer acordo. Tal situação mostra-se embaraçosa para Leo, porque passa a se ver como realmente é: um jovem sem amor por ninguém, exceto seus velhos pais, nem por Deus. Também não é amado por qualquer pessoa. Resolve dar um fim aos seus planos. Desiludido, magoado pensa em arranjar uma namorada sem ajuda, uma pessoa a quem ele possa amar e depois casar. Sem tempo disponível o plano fracassa, mas não as investidas de Salzman. Um dia, mesmo sabendo que não é bem vindo, larga apressadamente mais algumas fichas contendo fotos de outras prováveis noivas. Leo, enfurecido, nem olha para o tal envelope. Os dias passam, mas nada muda em sua vida e ele resolve dar uma espiada no objeto de seu desprezo, agora coberto de poeira. Ao abrí-lo, junto com as fotos, encontra um simples instantâneo de uma bela e jovem moça, com lindos olhos azuis e uma aparência já conhecida do fundo de sua alma. Quanto mais o olha mais se sente atraído pela jovem. Compulsivamente corre em busca de Salzman, que assustadíssimo vê a foto e roga para que ele se afaste dela, estava ali acidentalmente, pois é um caso perdido, é um demônio. Apaixonado exige saber de quem se trata. Retrucando desajeitadamente, revela que é sua própria filha, indigna de um sábio e jovem rabi. Correndo, desaparece do apartamento. Não obstante, Leo não consegue esquecê-la e se convence de que ela é a mulher de sua existência, portanto poderia ajudá-la a encontrar o caminho certo e que isso o redimiria perante Deus. Após muitos insucessos consegue achar o sumido Pinye e o trato é fechado. Ele conhecerá sua menina Stella. Deixando a cafeteria ele é afligido por uma tormentosa suspeita de que Salzman havia planejado tudo desde o começo. Dias depois, em uma noite de primavera, ele se prepara para encontrar sua amada, sob a luz de um poste, numa determinada esquina. Ela o esperava timidamente. Ao avistá-la, tão linda, percebeu que aqueles lindos olhos eram iguais aos do pai, azuis e cheios de desesperada inocência. Leo corre em direção a ela com um maço de flores, Stella seria sua redenção! Nas proximidades, um magro judeu cantava orações para os mortos!

[1] Foi um dos ganhadores do prêmio Pulitzer de litertura
[2] Magic Barrel ganhou o prêmio National Book Award
[i] The Magic Barrel é um dos livros mais inteligentes que já li.

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