segunda-feira, 19 de julho de 2010

SHAKESPEARE E A ECONOMIA


GUSTAVO H. B. FRANCO - HENRY W. FARNAM

A ECONOMIA DE SHAKESPEARE
GUSTAVO H.B. FRANCO

Este interessantíssimo livro com textos de Gustavo Franco e Henry W. Farnam fala sobre a economia, no século XVI, quando ainda não tinha o nome ou a abrangência como hoje a conhecemos. Era o nascer do capitalismo.
Gustavo Franco, baseado na obra de Shakespeare, faz, através de seus escritos, uma análise profunda de como esse grande bardo estava vinculado às finanças e à economia em geral de seu período. Todas as suas peças eram escritas a fim de que ele se aproximasse mais do povo e para, em uma linguagem compreensível, entretê-los, desde a rainha Elizabeth e sua corte até as famílias de mendigos que acorriam para seu famoso teatro, O Globo. Para tal era imprescindível conhecer profundamente suas necessidades políticas, financeiras e sociais. As peças eram escritas para a população em geral, para que se identificassem com elas. Não eram publicadas, somente mais tarde, pois a língua ainda estava em formação e muitas palavras eram tiradas do latim, a língua culta da época, ou inventadas por esse gênio. Os teatros eram a única diversão oferecida para a população desse século e havia diversos ótimos autores que também escreviam, assim como ele. O Teatro era muito lucrativo para a corte, que cobrava generosos impostos sobre as apresentações. Uma peça para dar lucro deveria ser representada por muitas vezes e em algumas ocasiões eles paravam devido às pragas ou diferentes motivos, como incêndio. Shakespeare soube enriquecer como nenhum outro de seu tempo com essa função. Gustavo Franco esclarece alguns mitos da época que não eram verdadeiros, como a presença da rainha em sua casa de espetáculos. As moedas eram muito importantes em vista de seu valor intrínseco, mas mesmo isso foi sendo falsificado com o passar dos anos. Pouco ou quase nada se sabe sobre o grande escritor e o mais concreto está em seu testamento, que não foi redigido por ele. A importância do crédito era enorme, pois havia grandes mudanças, graças às descobertas de novos territórios e o desenvolvimento agrícola. Práticas comerciais e financeiras se acumulavam. Seu livro nos mostra o início do venture capital, privateering, bonds, e outros nomes agora tão usados, ligados nesses tempos à economia do teatro.
Realmente é um livro muito significativo, mesmo para quem não quer saber de textos shakespearianos ou economia como uma ciência. Belíssimo trabalho de pesquisa e fluidez.

A ECONOMIA EM SHAKESPEARE
HENRY W. FARNAM

A segunda parte do livro foi escrita por Henry W. Farnam, no início da década de 30. Foi ele quem notou as alusões à economia, contida nas peças shakespearianas, e após longo estudo demonstra, como nos diálogos e nas descrições dessas obras, o quanto se mencionava sobre essa ciência, como hoje é vista. É um relato interessantíssimo, pois Shakespeare, tendo nascido no campo, tinha grande conhecimento sobre essa atividade, bem como sobre o comércio das grandes navegações (O Novo Mundo, Índia e Ásia). Em sua obra podemos saber quais os principais produtos da época e quais eram usados comumente. Quando se muda para Londres, torna-se um citadino, cobrindo tudo o que se apresentava na intelectualidade. Trechos das peças muito engraçados e outros elucidatórios, nos surpreende pela modernidade em uma época em que o capitalismo começa a florescer.
A junção desses dois trabalhos excelentes e simples faz do livro uma leitura culta e muito agradável.

Nenhum comentário: