segunda-feira, 17 de outubro de 2011

LIÇÕES DE FILOSOFIA PRIMEIRA DE J. A GIANNOTTI



Parte I

Aqui seguem alguns fragmentos desse ótimo livro, para quem quer se familiarizar com essa ciência. Não farei um resumo, como de costume, pois se trata de um assunto que não domino, mas refleti muito e resolvi escrever algumas de suas impressões, pois foram de grande valia para minha vida pessoal. Essa obra é bastante enriquecedora e deve ser lida por completo, para que se tenha uma noção mais apurada pelo assunto e continuar seguindo ou não por esse caminho. Na introdução ele diz “Espero ter escrito uma introdução à filosofia, não às opiniões deste ou daquele filósofo, mas à maneira pela qual eles pensam determinados problemas.”
Tales (625-458 a.C.) é o primeiro filósofo de acordo com a tradição grega. É dono de senso prático e “admirado porque manipula ideias abstratas, importantes e divinas.” Platão e Aristóteles “fizeram desse estranhamento o autêntico espanto diante das coisas, o empuxo para a reflexão filosófica.” A filosofia ocidental nasceu na Grécia (séc.VII a.C.) quando a cidade-estado, a pólis, se formava. “Somente quando a polis entrou em decadência eles criaram escolas propriamente ditas – lugares de ócio (skolê em grego), onde não se praticava o neg-ócio... visando lhes abrir o caminho para uma vida feliz, contemplativa...” Pólis desaparece com conquistas de Alexandre o Magno, integrando o império romano.
Os filósofos tornam-se cosmopolitas. Com o cristianismo, os padres da Igreja tornaram-se filósofos, nem sempre obedientes ao Vaticano. No Renascimento dá-se a conciliação entre fé e saber. Francis Bacon- n.1561, René Descartes- n.1596, Hobbes –n.1588, Locke, Hume, Bekerley, Leinbniz, Kant- n.1724, Rousseau- n.1722, Espinoza- n.1632, Schopenhauer- n.1788. No século XIX passam a ser principalmente professores: Russel- n.1872, Heidegger- n.1889, Wittgenstein- n.1889.
“A FILOSOFIA é uma forma de saber raciocinador, que se ocupa do cosmo, da linguagem (do logos), do sentido e dos limites do conhecimento científico, do significado de outras práticas e da política. Nasce, desde logo, opondo-se ao pensamento mitológico.” A filosofia tem mais de dois mil anos de tradição.
“O estudioso moderno desde logo se confronta com a tarefa de reconstruir, de compor os textos antigos.” “Os Cidadãos – entre eles não se incluíam as mulheres, os escravos e os estrangeiros – participavam do poder reivindicando o direito da isegoria, isto é, a possibilidade de pedir a palavra na assembléia comunal, e aquele da isonomia, de ser tratado igualmente perante a lei.” “A nobreza, armando o tecido das trocas, faz circular objetos preciosos...” “Mutatis mutandis, o poder também circula... passa a ser compartilhado... até abranger todo cidadão adulto, desde que estivesse ligado a um demos, por assim dizer um distrito. Daí o nome “democracia” para essa forma de governo...” No lugar de um palácio centralizador, surge a cidade murada protegendo cidadãos e estrangeiros e recebendo os camponeses do redor. Esse saber público encontra raízes do pensamento indo-europeu. “É interessante notar que a substituição do rei mago (o anax) por uma assembléia de pares, inclusive com poderes religiosos, necessita da intermediação de um sabedor (sophos), de um sábio dos meandros da polis ideal.” Em geral os sábios eram legisladores na Grécia antiga. O ser pode dotar-se de um movimento de ascensão. Como pensar o uno no múltiplo e vice-versa. Qual a natureza do uno? Seria da fonte do múltiplo. Martin Heidegger sugere: “De onde as coisas têm seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela justiça segundo a ordem do tempo.” ”O tempo é pensado como circular, voltando sempre ao mesmo ponto de partida, os entes retornando à unidade do indefinido para recomeçar tudo de novo.” Tudo o que é... é; e o que não é não é.
“A razão grega... permite agir sobre os homens, não transformar a natureza.”pg.37.Horrível descartar os pobres e restringir os cidadãos (411 a c.) Durante o século V a.c. a cidade é conduzida por políticos de grande envergadura, Péricles. Dúvida da existência dos Deuses, Protágoras. Distinção do VERDADEIRO E FALSO. Sobre todos os assuntos existem dois argumentos antiéticos entre si. PENSAR é discursar sobre o REAL, tomando o homem como medida para todas as coisas. Importa-lhe conhecer e praticar o bom juízo, as sabedorias no que concerne aos assuntos privados e públicos. Zeus cria os homens. Princípio básico da democracia: a isegoria e a isonomia aos cidadãos (MULHERES não eram CIDADÃS como os escravos e estrangeiros). SÓCRATES acredita na imortalidade da alma. É um homem rude, mas leva ao limite a busca da consciência moral. Na modéstia Sócrates escondia um grande orgulho. A certeza de trilhar o caminho da verdade. (Como Jesus?) Em 399 a.c foi acusado de corruptor da juventude. Morreu tomando cicuta e Platão vem a ser seu maior discípulo. TALES, PROTÁGORAS, SÓCRATES, PLATÃO. Sócrates não confia na força da amizade. Faz inimigos ao desvendar o falso saber deles. No dia da execução recusa a ajuda de amigos para fugir. Acreditando na imortalidade da alma bebe, serenamente, o cálice de cicuta.
PLATÃO 425 – 394 AC. Escreve diálogos e os problemas filosóficos são desenhados por inteiro, através de seus personagens. Antes de indagar pela injustiça da ação, cabe indagar pelo sentido da alma justa. Acredita na Forma. Forma-justiça. Forma-pera, Forma-bondade, Forma-mesa, etc. O REPOUSO deve ser explicado na qualidade de PRINCÍPIO de qualquer mudança. A Forma cunha a matéria como o sinete se imprime na cera. Só chega aos princípios quem for moralmente dotado e capaz de, a partir dele, proceder quase que AUTOMATICAMENTE. FILÓSOFO: facilidade de aprender, memória potente... e aspira pelas coisas justas e belas. Seria necessário redesenhar o mapa em que os gregos distribuíam deuses, seres humanos e viventes. Pensar é rememorar, ter reminiscência de um contemplar anterior à encarnação. Não há lugar para as lendas de Homero. A tarefa é legislar a polis. Aquele que se aproxima do divino tem a responsabilidade de voltar ao mundo das aparências e auxiliar seus cidadãos a se libertarem de seus ferros. Refere-se à lenda da caverna escura, com luz que modifica a forma real. Só poucos percebem isso – os iluminados. Platão viaja para disseminar sua filosofia, mas um rei se cansa dele e é quase escravizado. Cada um deve aprender o saber que lhe compete, e graças a ele, adquirir a virtude da TEMPERANÇA, o DOMÍNIO de seu oficio e de si mesmo. A justiça não é propriamente definida, tão só localizada no edifício do saber. Quatro VIRTUDES CAPITAIS: prudência, temperança, coragem e justiça. Em oposição se coloca o desejo, outra parte constituinte da alma. A VONTADE não possui uma essência de que os filósofos falam a partir de um ponto de vista. A CORAGEM tem uma posição difícil no desenho platônico da alma humana. O lado apetitivo da alma se extravasa para se abrir à ponderação da razão. Bem supremo, Verdade, Beleza coincidem. O Bem é a parte mais luminosa do ser. Deus é o Bem. A dialética platônica visa o Bem, idêntico ao Belo e ao Verdadeiro. Parmênides. As Formas se friccionarem umas nas outras na medida em que essa possibilidade deixa pistas na própria aparência, nos fenômenos cotidianos. O sofista é um caçador de jovens atenienses ricos, pois podem ser capazes de pagar por suas aulas, assim como livres, porquanto se destinam a exercer poder político. ANTÍTENES (444 ac) foi fundador da escola cínica, assim chamada porque era muito crítica dos costumes atenienses e da filosofia de então. Foi discípulo de Sócrates. O ser é, mas enquanto ente particular ele se diferencia de outros porque possui em si mesmo poder diferenciador. O sofista faz do discurso o desvendamento do ser, inclusive tenta mostra como esse ser participa do não-ser.
Pg. 78 Aristóteles rompe, aos poucos, com o Platonismo e descobre seus próprios caminhos. Ele distingue coisas homônimas de sinônimas. Fala de coisas e de suas essências;
Cruzeiro – cruz e constelação. Animal - homem e boi. O tempo é quantificável, pois o tempo presente se une ao tempo passado. O mesmo acontece com o lugar, que, ao ser ocupado por um corpo é delimitado pelas partes que esse corpo passa a possuir. O tempo vem a SER na medida em que o movimento é essencialmente quantificável. ANTES e DEPOIS. Os nomes designam as coisas por convenção. Um nome que possui uma dimensão temporal é um VERBO. Somente no século 17 Galileu poderá considerar a natureza como um livro aberto escrito em caracteres matemáticos. O objeto natural deixa de ser potência para se tornar cruzamento de propriedade mensuráveis. A ciência moderna nasce quando quebra o privilégio conferido por Aristóteles à essência enquanto definição. A ontologia, a doutrina do ser (on), orienta a definição da forma lógica da proposição declarativa. O homem é mortal. Nela Platão vê o indivíduo que participa da Forma-homem e por causa disso também participa da Forma-vida. As palavras emitidas pela voz são símbolos de estados de alma e as palavras escritas, símbolos das palavras emitidas pela voz. Para Aristóteles o símbolo se constrói para que algo seja dito, e por fim conhecido, mediante combinações mentais e verbais. O DISCURSO executa as ações mais divinas, pois tem o poder de cessar o medo, retirar a tristeza, inspirar a alegria e aumentar a piedade. As coisas são finitas e as palavras são infinitas. Fica clara a necessidade da contradição, pois o discurso somente se efetiva quando os interlocutores estão visando a mesma coisa. Análise existencial/metafísica. O homem é animal racional... o homem é posto no gênero animal, mas se diferenciando totalmente dos outros animais, na medida em que vem a ser racional. A alma como forma do corpo... A alma articula as partes de tal modo que elas não existem separadamente. A forma se reduz a algo para que sua matéria seja consumida por as atividades, por sua energeia. As coisas sensíveis são móveis e separadas. Os números e as figuras geométricas, em contrapartida, são imutáveis e inseparáveis das coisas onde estão. Erro dos platônicos: não entenderam que a matéria próxima e a forma constituem uma unidade, mas se diferenciam conforma essa unidade muda de sentido. Matemática/filosofia. (Incrível ver com na Idade Média estudou-se tanto sobre filosofia, fato tão abstrato e que necessita de reflexão constante e diálogo.) Todo homem deseja conhecer por natureza. Mas o que se quer conhecer equivale, em número, ao que se entende: que, porque, se é, o que é. (O homem é homem, mas passa a ser designado por outros atributos) O acidente não é apenas o concomitante, mas se torna demonstrável, ou melhor, por si mesmo. Em vez de diálogos Aristóteles passa a escrever tratados. É da natureza da razão chegar à verdade das coisas, mas para isso ela precisa se mover, ativar e ordenar a linguagem para que suas mediações se evidenciem. O universal... se encontra na articulação das próprias coisas tal com vêm a ser apreendidas pela razão. (felicidade- eudaimonia/ equilíbrio, ponderação, virtuosismo, moral e prudência. Aristóteles observa que o freqüente está entre o necessário e o acidente. (sequência: Tales, Sócrates, Platão, Aristóteles). A alma é definida como a forma do corpo. Pg.123. A alma se desdobra em passiva e ativa. O intelecto se mostra passivo para que o intelecto ativo o mobilize. (metafísica/ ciência teórica, a primeira delas). Os corpos celestes não possuem matéria no sentido mais comum; posto que se movimentam circularmente, existem por si próprios enquanto forma autônoma. Como pura atividade são, por fim, divinos. Os Deuses de Aristóteles transcendem o mundo, mas não se escondem. (Deus/primeiro motor/Bem/Deus objeto de seu próprio pensamento/Sumo Bem). Os platônicos fazem da alma o princípio do movimento, cada gênero possuindo movimento próprio mas integrando-se no movimento promovido pela alma do mundo. Os círculos moventes dependem de um motor imóvel, energia pura que mobiliza outras formas de movimento. A filosofia primeira está destinada a se confrontar com a ontologia e com a teologia...
(Os estóicos opõem-se à tradição platônico-aristotélica – ponte entre pensamento grego e cristão... estóicos ligados aos temas da cidade estado grega. Grécia conquistada pelos romanos em 146 a.C. Instalam-se na Capadócia, Mediterrâneo, Espanha. Alexandria se torna centro cultural importante e Atenas, desprovida de seu império, volta-se sobre si mesma e institucionaliza de vez a riqueza de seu pensamento, abrigando uma rede de escolas filosóficas e científicas. .. O saber perde a unidade antiga e as ciências encontram definitivamente seus próprios caminhos. (geometria, matemática, astronomia, física, mecânica, medicina) Euclides, Apolônio, Arquimedes, Hipócrates, Galeno. Os primeiros estóicos... se reuniam num pórtico (stoa) de Atenas. Zenão funda a primeira escola em 322 a.C., Cleanto sucede e depois CRISIPO, o grande arquiteto do pensamento estóico. Com ele a filosofia pretende definir a finalidade da vida feliz e transmitir a arte de viver conforme esse objetivo. Adquirir e ensinar a arte de viver. Isso comporta três partes – lógica, física e moral. Isso está sempre interligado com Deus e o Bem). O ser (einai) é existência individualizada, corporificada... O passado e o futuro apenas subsistem. Mas o presente não existe em bloco na medida em que o passado e o futuro o comem pelas bordas. O ser sensível, corporal, é a única existência. Crisipo sustenta que o contínuo pode ser dividido ao infinito, nunca a divisão chegando a um elemento atômico, indivisível. Pg. 135. Nos últimos anos, multiplicaram-se os estudos sobre a lógica antiga... tendem a ver na lógica estóica os primeiros passos da lógica da proposição e da dedução contemporâneas. A proposição é o exemplo mais evidente de um dizível... Se tudo é perpassado pelo sopro da racionalidade divina, de onde poderia surgir o Mal? (As catástrofes, feras e seres que infernizam nossa vida estariam a serviço da ordem divina a fim de ressaltar o equilíbrio do todo?) (Os indivíduos interagem entre si segundo suas causalidades próprias)... a alma cede à evidência, mas por si mesma, sem nada deliberar. Deus se resolve numa causa motriz infinita e racional. O ser humano possui alma divina, sopro natural e constante que percorre todo o seu corpo... É modelo de si mesmo... usa de suas representações para ser feliz, encontrar a tranqüilidade da alma. Para o estóico a exigência de perfeição não pressupõe que a felicidade aumente conforme ela mais dure.
Nem sempre o que percebemos, o que imaginamos, o que pensamos se mostra verdadeiro, o falso espreita cada passo da investigação filosófica. Sócrates afirmava que nada sabia, sempre desconfiava daquilo que se lhe apresentasse como um saber, mas essa dúvida lhe dava o saber certo de que nada sabia. Descartes excluiu do domínio das certezas tudo o que pudesse vir a ser duvidoso. Se a percepção nos engana, então cabe recusar-lhe o estatuto de saber inevitável... Daí a afirmação “Penso, logo existo”, da qual Descartes pretende erguer sua filosofia. (Quem percorre o caminho da dúvida é dito um cético, portanto esse filósofo é um cético). Os filósofos helenistas se iniciam e terminam tendo o ceticismo como contraponto. Seu primeiro representante é Pirro 360-270 a.C. Acompanhou Alexandre à Índia e sofreu influência da filosofia oriental. Suas idéias não foram escritas, mas transmitidas por Timão, que dizia que quem pretende ser feliz deve considerar três coisas: 1- Como as coisas são por natureza? 2- Que atitude se deve adotar diante delas? 3- Qual será o resultado para quem assume essa atitude? Para os pensadores helenistas o conhecimento somente nos interessa quando nos traz ensinamentos morais... Os pirrônicos nunca afirmam que uma coisa é, mas que assim lhes parece. (Os céticos desejavam fazer da filosofia o caminho para a felicidade). (Os brasileiros faziam um mero relato das idéias filosóficas). A diafonia (desacordo) dos sistemas filosóficos é a mais diabólica do que uma simples dissonância, já que cada filósofo a pensa a partir de algumas certezas que às vezes ele nem sabe explicar.
À medida que o pensamento grego se volta para o monoteísmo, diminui a presença de Deus no mundo (físico) ele o transcende embora se responsabilize pela racionalidade de seu travejamento (vigamento). O advento do cristianismo muda essa relação. De um lado, Deus transcendente cria o mundo a partir do nada, ex nihilo, de outro, Deus como Verbo se faz carne. Transcendência e Imanência se cruzam e esse é um enorme desafio do ponto de vista da razão. Roma torna-se cristã sob Alexandria, a paz romana protege o Mediterrâneo. Em 312 d.C. Constantino se elege imperador. Converte-se e controla a igreja católica, convocando o concílio de Niceia. Filósofos se fazem cristãos. Há um longo ruminar dos temas tradicionais. Entre os patrísticas (doutrina dos Santos Padres), AGOSTINHO é o maior. Contudo é educado como um romano. Nasceu na África, Tagasta, e jovem vai a Cartago. Recebe influência platônica que permanecerá em sua vida. Liga-se a maniqueístas que pregavam uma religião salvacionista. O Bem e o Mal eram duas substâncias antagônicas entre si. Agostinho tendia a identificar ser e corpo, mas à medida que se cristianiza passa a entender Deus como espírito. Converte-se em 386, pondo-se a serviço da igreja. Submete corpo, vontade e alma a serviço da iluminação divina. Colabora assim para que a igreja encontre sua identidade ideológica. Retorna à África e como bispo é encarregado da diocese de Hipona. Atividade fisiológica e política de igreja misturam-se. Alguns líderes religiosos colocavam-se contra os desvios da Igreja. Para alguns a relação privada entre o homem e Deus era suficiente, sem intermediários. AGOSTINHO combateu em duas frentes repensando a encarnação do Filho de Deus e propondo um congresso com os dissidentes Não havendo consenso recorre à repressão do braço secular... O diálogo tem limites, além dos quais simplesmente impera a força. Em seu livro CONFISSÕES, relata a fé na existência das coisas e a fé na existência de Deus... Quanto mais o conhecer se torna verdadeiro, mais se aproxima da verdade, do Verbo divino, por conseguinte mais próximo estará da inefabilidade do todo. O que se diz de Deus não é mais finito. Se Deus é grande... tudo o que se disser dele é dito na universalidade, na generalidade máxima... A figura mediadora do Filho é o Verbo... Se Deus cria o mundo por sua palavra, por seu Verbo, esse verbo se dá como total permanência e presença... A eternidade é a essência da Verdade. A razão humana é igual aos sintomas da divindade. Adão foi o homem que nomeia os animais terrestres e as aves, que lhe foram apresentados por Deus. Para ele importa a bipolaridade entre o Bem e o Mal, que por sua vez reflete apenas a monopolaridade do Verdadeiro. O FALSO traz consigo a marca do PECADO. Do mestre é uma obra de Agostinho que dialoga com seu filho Adeodato, Filho de seu pecado... Não se entenda essa denominação com rejeição ao filho ilegítimo, mas simplesmente como uma forma de exprimir que todo o talento dele vem de Deus. Paulo coloca a Verdade como limite e o sentido profundo da investigação racional: Deus encarnado tem no homem o seu templo, Cristo habita o homem interior de sorte que essa Verdade interiorizada vem a ser o último critério do conhecimento. A exterioridade da linguagem e das ações se interioriza até encontrar Deus revelado e encarnado, cuja imagem inscrita na alma se apresenta por fim como o mestre absoluto de todo conhecer. Pg.187 Aristóteles dizia que as coisas homônimas são as que têm o mesmo nome que serve para identificar essências diferentes. (sujinho – sujo e sujinho, nome de restaurante). Para Agostinho a menção nominaliza. As ideias na alma humana são essências na medida em que foram criadas à semelhança dos pensamentos de Deus, constituem regras do conhecimento, critérios do Bem e do Mal, do verdadeiro e do falso, na medida em que se ligam à vontade humana de conhecer. Esta, no fundo, é nossa vontade divina de nos conhecer a nós mesmos e de conhecer Deus... A luz da verdade se encontra na alma. No mito da CAVERNA DE PLATÃO, os homens abandonam o fascínio da imagem e se voltam para a luz porque assim o querem. Mas essa vontade é um agir de acordo consigo mesmo, um atuar de bom grado... A transgressão moral nasce da falta de conhecimento. A CRIAÇÃO altera esse cenário. O pecado conduziria à morte eterna se Cristo não se encarnasse para a remissão dos pecados. O mal se origina no livre-arbítrio. Deus é o mestre absoluto, assim termina o diálogo orientado pelos sábios. (isso, entretanto foi uma pena na minha visão, as duas coisas poderiam coexistir como hoje). Com a confissão você se analisa e tenta chegar ao Bem. (Acho que não é necessário ter um intermediário para se analisar um pecado). Agostinho foi uma criança e jovem normal, com todas suas falhas e acertos. Assim como todas as coisas são levadas por seus pesos a ocupar lugares naturais, cada um de nós é levado pelo amor residente em nós mesmos. A oração é a conversa com a divindade. A TRINDADE operou simultaneamente a vontade do Pai, a carne do Filho e a pomba o Espírito Santo. O TEMPO marca uma das dimensões da miséria humana, mas, quanto mais compreendemos seus limites, mais nos aproximamos do caminho que nos libera dela. A busca da natureza do tempo deságua na procura do “conhecimento” de Deus. A ciência se encaminha para a teologia... Embora Agostinho se aproxime de Platão, o fato da encarnação transforma seu platonismo ...num modo de pensar em que o Verbo encarnado é, ao mesmo tempo, norma e caso: o Cristo visível, corporal e falante, é também invisível e eterno. Deus é o “é” por excelência, como o Bem é o Bem de todos os bens. Em 140 Alarico invade e saqueia Roma. O antigo império treme... Não seria porque abandonou os antigos deuses do paganismo? ...O império que cada um carregaria consigo se fosse sábio, se converte na comunidade de todos aqueles seres humanos que, renunciando aos pecados se integram na comunidade, na comunhão com Deus. Distingue a cidade humana da divina, onde, pela primeira vez no Mediterrâneo todos os seres humanos, convertidos ou pagãos, possuem o mesmo título de cidadania.

PARTE II

NIETZCHE é o primeiro filósofo anticristão. A filosofia requer a simples busca pela verdade... Ele vem retirar o tapete por onde temos andado... Ele parece apostar todo o peso de seu pensamento na noção de vontade... o jogo da vontade depende de um processo de nomear onde a palavra-nome funciona essencialmente como representação... sua teoria é representativa, pois nome é imagem... Para ele o conhecimento é determinado por um impulso, que encontra na vida sua fonte e sua medida... equilibrações que resultam do jogo de indivíduos mais fortes com os mais fracos. O europeu havia se encantado com o niilismo pela exaltação da vita beata, plena entrega à contemplação do eterno... Tivemos a crise da modernidade... Em vez do princípio da razão suficiente, temos o fluxo vital. A verdade tem sentido porque corresponde a uma vontade, a uma afirmação de um ponto de vista... Porque não querer o falso? ... Daí a importância para nós de nos livrar das oposições entre verdadeiro e falso, bom e mau, que emparelham os dois valores como se estivessem num mesmo nível... O que está por trás da verdade? Wer- quem e Was - o que. Ele substitui o DESEJO de conhecer da alma humana pelo VALOR que o verdadeiro ou o falso tem para que o HOMEM venha se firmar enquanto tal SUPERANDO-se a si mesmo. VIDA firma-se como vontade de ir além, capaz de transformar até mesmo a MORTE num momento de autoafirmação. Diz quanto à doença: fiz de minha vontade de saúde, de vida, minha filosofia... Pg 212... a vida no fundo das coisas... é indestrutivamente poderosa e alegre... A falsidade se resolve numa codificação da mentira, numa lógica falsificadora... Note-se que qualquer unidade é CONCERTAÇÃO, isto é, jogo resultante de relações desiguais entre forças desiguais... A gênese da verdade se faz, portanto, antes do verdadeiro e do falso a operar no contexto do juízo... O QUE É A VERDADE? Um batalhão de metáforas... uma soma de relações humanas.... transportadas... após longo uso, parecem para um povo sólidas, canônicas:... as verdades são ilusões, metáforas que se tornam gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie.... entram em consideração como metal, não mais como moedas... O mais forte aceita a existência do mais fraco na medida em que dele precisa para continuar a exercer sua potência... Graças a esses níveis de equilibração das imagens, as coisas ganham unidade, mas somente os mais fortes é que têm o direito de nomeá-las. A estabilidade das coisas e palavras provém de um acúmulo de erros... benéficos para os homens; estabilidade que os fortes e fracos aceitam para cada um exercer a potência que lhe cabe, sem que um anule o outro...(sobre a vontade)...a VONTADE não é pensada como faculdade capaz de fazer com que suas representações se transformem em regras criando seus casos, empuxo configurando coisas... Consiste apenas num fundo sem fundo, num quantum de potência se relacionando com outro quantum, vontade de usar da violência e de se precaver contra ela, que se apresenta para nós como pathos, cujas unificações, seguindo os moldes da criação artística e do estilo, vão permitir a aparente ordem do mundo e da linguagem... O pensamento racional é um interpretar segundo um esquema que não poderíamos abandonar... Pg. 225 Na base de toda crença está a sensação do agradável ou doloroso, em referência ao sujeito da sensação. Uma nova e terceira sensação, resultante das duas sensações singulares precedentes, é o JUÍZO em sua forma inferior... Sabemos que a SEMELHANÇA é vista como uma relação que junta duas coisas já existentes, enquanto a IGUALDADE indica uma coisa posta, em geral, mediante dois nomes diferentes. (Para Nietzsche não havia ARTE sem a condição filosófica da embriaguez (Rauch)... não há arte sem isso... A arte nos lembra a condição do vigor animal... “a arte nada mais pode ser do que a afirmação do mundo... Niilismo, mancha da vontade de potência, que herdamos dos ensinamentos de Sócrates e de seus discípulos décadents... a verdade e o conhecimento somente se fazem compreender completamente no nível das avaliações morais... Nietzsche não está negando a importância da gramática na vida cotidiana, apenas vê nela uma carapaça instituída pelo intelecto e pela imagem, que esconde as pulsões da vontade de potência... Nossa primeira dificuldade está em compreender como é possível pensamento sem gramática... Nietzsche nos serviu de fio condutor para ler alguns filósofos da antiguidade... O mundo que nos interessa é falso, isto é, não é um fato, mas uma fantasia e um ajuntamento de uma escassa soma de observações; ele é fluido... como uma falsidade que continuamente se desvia, que não se aproxima nunca da verdade, porque não há “verdade” alguma. O constante sobrepujar não é infinitamente linear, em virtude de uma desmedida entre o tempo infinito e a finitude da força... Considerar a existência como eterno retorno do mesmo? Cada ação haveria de se integrar num dos anéis do grande anel do eterno retorno do mesmo... O grande fato novo é a morte de Deus... Não é por isso que a religião desapareceu... os europeus continuam buscando divindades. Contra essa ilusão, Nietzsche transforma o profeta ZARATUSTRA (filósofo da observação dos astros) no mensageiro do eterno retorno do mesmo: “Pois teus animais bem sabem, Ó Zaratustra, quem tu és e tem de se tornar: vê ,tu és o mestre do eterno retorno – e esse é o teu destino!” (Assim falou Zaratustra). Nem mesmo Nietzsche deixa de sentir a presença do Deus morto. Abatido pela loucura, assina sua cartas como “o Crucificado”.
No século 19 os filósofos foram surpreendidos pela possibilidade de traduzir as regras lógicas em termos matemáticos... As ciências passavam por grande revolução... As MATEMÁTICAS lideram esse movimento. O número diz o modo de uma sucessão existente... cada um se distinguindo do outro simplesmente por seu outro, no interior do conjunto, de uma classe determinada. Prepara, assim, um entendimento melhor da noção de função, isto é, de uma relação que liga um elemento de C a um ou mais elementos do mesmo C. E a noção de função é uma das chaves da álgebra e da aritmética modernas. Giuseppe Peano. São três os conceitos primitivos dessa aritmética: zero, número e sucessor. Zero é um número. O sucessor de um número é um número. Dois números nunca têm o mesmo sucessor. Zero não é sucessor de nenhum número. Toda propriedade que pertença a zero e ao sucessor de um número que tenha a mesma propriedade pertencerá a todos os números... A lógica passa a ser ciência, no moderno sentido da palavra, pois ganha um domínio próprio a ser focalizado... As leis naturais são o que há de geral no acontecer natural, às quais este sempre se conforma... Das leis do ser verdadeiro extraem-se então prescrições que devem ser acatadas e com as quais o acontecer nem sempre se põe de acordo. Quando falamos de leis morais e políticas, entendemos prescrições que devem ser acatadas... As leis naturais são o que há de geral no acontecer natural, às quais este sempre se conforma... Das leis do ser verdadeiro extraem-se então prescrições para tomar como verdadeiro o pensar, o julgar, o raciocinar. Pg. 251. Se uma proposição fosse verdadeira apenas para aqueles que a tomam por verdadeira, nada impediria que fosse falsa para outros. A oposição entre verdade e falsidade se converteria, assim, numa questão de gosto... para Frege que procura circunscrever uma área de objetos verdadeiros, os pensamentos, ela (a lógica) é a ciência das ciências. Frege pgs. 254 a258. Em 1910 Bertrand Russel publica com Alfred Whitehead o primeiro volume dos Principia Mathematica... que apresenta a primeira tentativa de expor a nova lógica... A linguagem é uma forma de experiência e, quando se altera uma forma de vida, uma nova linguagem precisa se composta e experimentada. Não foi o que aconteceu quando o Ocidente se tornou cristão?
A filosofia será substituída pela lógica da ciência – pela análise lógica dos conceitos e das sentenças das ciências, pois a lógica nada mais é do que a sintaxe lógica da linguagem das ciências. (A lógica será uma ciência formal exata expurgada dos problemas metafísicos). (A partir dos anos 30 surgem novas lógicas como as teorias das deduções naturais, outras escapando dela)... São lógicas não clássicas.
Em 1891, Edmund Husserl publica Filosofia da Aritmética, investigações psicológicas e lógicas e recebe duras críticas de Gottlob Frege... Ato e objeto, na nova linguagem: noesis e noema conformam uma unidade indissolúvel, cabendo à filosofia, entendida como pura descrição de tais fenômenos, fenomenologia pura, examinar como se entremeiam. FENOMENOLOGIA trata dos acontecimentos da consciência de um ponto de vista em que esses acontecimentos se mostram necessários e independentes de uma certa experiência. A lógica se transforma na teoria dos objetos puros, isto é, na descrição pura de tais objetos e dos atos que os configuram com tal. Pg. 269 A PERCEPÇÃO é o ato mais simples da apresentação das coisas... Mas toda coisa percebida tem algo que lhe é o ser próprio; a sua INDIVIDUALIDADE... Pg. 270 A ciência é... trama de conhecimentos fundados em princípios evidentes. O SOCIALISMO... se transformaria em técnica predisposta a dominar o mundo... Vivemos assim naturalmente habitando o mundo existente em suas várias dimensões: natural, social, cultural e assim por diante... (DÚVIDAS) O que acontece quando duvidamos? Não estamos suspendendo a crença...? Ao duvidar... estamos duvidando de seu ser homem ou bicho, perguntamos por sua identidade. Essa descrença não chega a suspender a crença na existência... pomos apenas em xeque a tese dessa existência. Para DESCARTES a dúvida é procedimento metodológico... “Penso, logo existo”. Husserl parte da constatação de ser impossível duvidar de tudo. Pg.284... O recolhimento de si: a identidade do próprio Eu... Daí a importância do tempo, na constituição do eu, na consolidação de minhas vivências, de minhas cogitationes. O tempo é a primeira dimensão formal de todo ente... Não sou um polo de identidade vazia.
Martin HEIDEGGER é controvertido no pensar de nas posições políticas. Linguagem intrincada... Ele se comprometeu com o nazismo... Engajou-se no movimento até se decepcionar porque não era tão radical como pensava. Aproximou filosofia de poesia, abandonado a tradição grega... (Seus trabalhos se relacionam com os problemas lógicos dos filósofos do inicio do século 20). (Rompeu com o catolicismo e se dedicou à filosofia). Em Husserl, a consciência do tempo assegura a unidade da consciência pura doadora de sentido... o próprio ser que se temporaliza e se historializa para o ente homem. (Ser e tempo são uma unidade absoluta). Ele não se interessa pelo novo cálculo lógico... chegando a tomá-lo... como sintoma da decadência do Ocidente, exemplo de um modo de considerar o ente exclusivamente pelo viés da calculabilidade. Em Heideger o ser é um gênero universal cobrindo todos os entes, não é tomado como fundamento, nem mesmo é sinônimo de Deus... o ser se resolve de maneira temporal... o próprio ser se historializa. Pg. 303-304. Heidegger não se reconhece no existencialismo de Sartre... fazendo da existência o fulcro (sustentáculo-apoio) da análise da essência. (Kant refutava a prova da existência de Deus, concebida pelo filósofo medieval Anselmo de Cantuária)... Caracteriza a existência humana estar se jogando entre os entes, isto é, no mundo... Perguntar-se pela existência do mundo exterior é, para Heidegger, um contrassenso, pois o ato existente do perguntar já implica estar junto ao mundo... Dasein (ser) e mundo são determinações que se completam. A existência só pode ser decidida e esclarecida pelo próprio Dasein. Heidegger escreve: A substância do homem é a existência (Existenz)... não é possível suspender a tese do mundo, porque o homem sempre está nele... está sempre com os outros, sem que isso obscureça a determinação de que o SER, sempre em jogo, seja MEU SER. Pg. 316-317. O Dasein decai (verfallen). Mas Heidegger recusa explicitamente ligar essa queda com o pecado. O pensamento teórico retirou o colorido do mundo, suas múltiplas dimensões existenciais... Espinoza dizia que a respeito das coisas humanas é preciso, em vez de enaltecer ou ridicularizar, sobretudo ENTENDER... Furcht-Medo Quando a coisa, o instrumento ou o outro, aparecem quebrados, quando uma con-juntura e uma sintonia se rompem, aparece o medo. Pg.329 Angst-Angústia quebra a familiaridade com o mundo e puxa o ser humano para si mesmo sem detectar aquilo que o está apavorando. Ela coloca em questão o próprio estar no mundo... a vontade e desejo se enraízam ontologicamente na cura...quanto à vontade,... ela sempre se reporta a algo desejado que revela para o Dasein (ser), assim, se conecta a uma estrutura significante...Por isso mesmo... percebe-se como está fundada no existencial mais geral da cura. (cura, vontade e desejo). A MORTE desvela-se como a possibilidade mais própria, irremissível, insuperável. Como tal ela é um independente privilegiado. Se não fossem as circunstâncias da vida cotidiana, estaríamos sempre presenciando a morte como o término da vida... (TEMPO) Como entender... o “antes” e o “depois”? Para Husserl, o “agora” se estende conforme vai antecipando o agora futuro e retém o agora passado. Quando olhamos no relógio... nossa temporalidade no mundo, pois agora ainda tenho tempo para chegar à aula... O agora marca o tempo como oportuno, disponível, ou inoportuno, indisponível... O tempo lido no relógio é sempre um tempo que revela uma falta de tempo, um contratempo (UNZEIT) e... está intrinsecamente ligado a um temporalização do mundo. (tempo que revela falta de tempo). A con-juntura fundadora da linguagem vem sempre temporalizada, cobrindo o mundo dos manejáveis com o manto da oportunidade ou da inoportunidade das ações humanas... O agora do nascimento de Cristo demarca nosso calendário... antes desse nascimento, depois desse nascimento até um determinado momento... (origem do tempo)... temporalidade existencial do próprio Dasein, no modo pelo qual ele se temporaliza... ele chega a si mesmo na unidade respectiva da projeção para o futuro... ao se projetar para o futuro, ele se afasta de sim mesmo e como tal EXISTE.
WITTGENSTEIN e Heidegger, para o autor desse livro, formam os dois maiores filósofos do século 20. Wittegenstein pretendia resolver de vez a verdade como adequação da proposição à coisa e assim expulsar a metafísica do quadro das ciências bem-comportadas. O sentimento do mundo como totalidade limitada é o sentimento místico. A metafísica tradicional mergulha no místico. O livro Tractus se inicia como aforismo “O mundo é tudo o que é o caso”. O conceito do mundo é transcendental, estabelece uma condição de existência para que as proposições tenham sentido... Os objetos constituem a substância do mundo... O sujeito só pode ser então limite do mundo, sujeito transcendental. Nessas condições sou meu mundo, mas o mundo é tudo o que sou. Deixarei apenas mencionado esse limite que cruza o máximo realismo com o máximo de idealismo... Em suma, o mundo deve então, com isso, tornar-se a rigor outro mundo. Deve, por assim dizer, minguar ou crescer como um todo. O mundo do feliz é um mundo diferente do mundo do infeliz. Aforismo de Tractus: “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”. (Wittgenstein termina sua tarefa, abandonando a filosofia, a universidade e volta para Viena dedicando-se à jardinagem, ao ensino primário e ao desenho). Lá nascera em 1899, numa família principesca, requintada, de origem judia, mas convertida ao protestantismo. (Frege o aconselha a ir para Cambridge e estudar com Bretand Russel, tornando-se seu grande amigo). Mas volta a Áustria para servir na Primeira Guerra Mundial. Trabalhou o Tractus até mesmo no front... Doa sua herança, conserva para si o suficiente para viver modestamente... aceita voltar para Cambridge... Ele sempre teve uma vida regrada, muito cioso de suas tarefas, muito amigo de seus poucos amigos. Sofreu forte influência do pessimismo de Schopenhauer, que lhe obrigava a enfrentar os dilemas da vontade e da representação. Atrás da figuração se encontram, pois, costumes ligados a formas de viver... as proposições necessitam mostrar como se entranham na vida cotidiana, de sorte que a própria lógica da matemática passa então a ser considerada como um sistema lingüístico no nível de outros sistemas formais... Na base dos sistemas formais está o uso de variáveis. “Isso se relaciona (ou se comporta) assim e assim.” Os novos escritores foram um mosaico de reflexões onde, às vezes, transparecem os filósofos com quem dialogam, em particular Schopenhauer, Platão, Aristóteles e Agostinho. Rompem com o cálculo lógico, passando a compreender a linguagem como um jogo... E um jogo não funciona melhor do que o outro porque é mais verdadeiro, mas porque satisfaz necessidades diversas... Um jogo de LINGUAGEM precisa ter seu Witz, seu sabor próprio, sua graça... “O conceito geral de significação das palavras envolve o funcionamento da linguagem com uma bruma que torna impossível a visão clara – dissipa-se a névoa quando estudamos os fenômenos da linguagem em espécies primitivas do seu emprego, nos quais se podem abranger claramente a finalidade e o funcionamento das palavras”. Cada jogo é ensinado. Gritar “pedra” e receber uma pedra passa a valer como uma regra do jogo que os agentes devem dominar. Em geral se aprendem jogos e formas de falar deles. Mas essas formas estão igualmente enraizadas em técnicas... A filosofia aparece quando a linguagem entra em férias, por isso a investigação se trava antes de tudo no nível gramatical... pg. 367 Um jogo de linguagem é um pensamento. Aplicar suas regras é pensar... A gramática não cria o fato, mas que este apareça como caso ou não-caso depende dela... Um jogo de linguagem pode ser não-verbal, como exemplifica um jogo de sinais de trânsito, a música ou a pintura. Cada um desses jogos possui o seu tipo de verdade... A linguagem funciona demarcando terrenos do dizer. E, se os limites não são absolutos, não é por isso que tudo é relativo. Qualquer jogo de linguagem pretende PERSUADIR.
De um lado, Heideger encaixa todos os sistemas na longa duração do esquecimento do Ser; de outro Wittgenstein os considera como sistematizações apoiadas em erros gramaticais, cuja história, se houver, não diz respeito ao núcleo da filosofia como terapia da linguagem... A linguagem heideggeriana é evocativa, enquanto a linguagem wittgensteiniana se resume numa rede solta de perguntas e respostas à procura de erros gramaticais que, sendo sanados, passariam a conduzir o pensamento humano dentro de seus limites... A promessa de Marx escrever uma nova lógica dialética nunca foi cumprida... Bloqueados por essa crença, muitos deles cegos ao totalitarismo vigente na União Soviética e nos partidos comunistas, contribuíram para que o marxismo fosse caracterizado como o ópio dos intelectuais.
“O poeta encontra uma pedra no meio do caminho, nós, que continuamos a estudar filosofia, encontramos um muro de pedras, que pode fechar ou abrir caminhos...”

THE DUKE'S CHILDREN DE ANTHONY TROLLOPE







THE PALLISERS
ANTHONY TROLLOPE
THE DUKE’S CHILDREN

Antony Trollope nasceu em Londres, Inglaterra, no ano de 1815. Era filho de um barrister (advogado representativo) e de uma prolífica escritora, Frances. Aos 19 anos foi trabalhar no correio até galgar o posto mais alto. Além de escrever novelas, a ele é creditado a invenção britânica Pillar Box (caixa postal). Sua primeira novela foi publicada em 1847 e a famosa série The Warden, em 1855. Na brilhante série de novelas políticas, The Pallisers, ele encontra seu personagem favorito, Plantagenet Palliser, Duque de Omnium e Primeiro Ministro da Inglaterra por três anos.
Essa maravilhosa novela da época vitoriana é a última da série, porém todos os livros podem ser lidos separadamente sem que percamos o significado do todo.
Plantagenet Palliser, Duque de Omnium e ex-Primeiro Ministro da Inglaterra por três anos, encontra-se viúvo. Sua mulher, Lady Glencora, morrera subitamente e era o personagem mais surpreendente da série. O duque está arrasado, pois deixara a educação dos filhos inteiramente aos cuidados de sua mulher, uma vez que sua vida era, na verdade, a política. Os dois rapazes mais velhos estão na casa dos vinte e poucos anos (Conde de Silverbridge, o mais velho e Lord Gerald Palliser). Lady Mary, a caçula está com 19 anos. Esse homem que pouco convivia com os filhos, que para ele eram quase estranhos, está agora com a incumbência de guiá-los para a vida adulta. Sendo um homem íntegro, justo e nobre não sabe como lidar com os anseios modernos de seus filhos. Ele tivera uma adolescência e vida adulta inalterável, sempre seguindo os valores da aristocracia e da justiça com as pessoas comuns. Sua mulher, muito mais arrojada e sonhadora, pouco conseguira mudar seu marido, a quem admirava e respeitava. Lady Mary está totalmente apaixonada por um jovem plebeu, Tregear, que apesar de ter conseguido uma cadeira no Parlamento, não é aceito pelo Duque, não por falta de qualidades admiradas por Lady Glencora quando viva, mas pelo fato de ser uma pessoa comum e sem dinheiro e ter tido a ousadia de pedir a mão de sua filha em casamento. Os dois sofrerão até o fim da novela para serem compreendidos. Muito mais interessante é o comportamento de seus filhos, que apesar de riquíssimos e nobres se envolvem com pessoas sem caráter e em jogos de cartas, corridas de cavalo e caça desenfreada, como se esses fatos fossem toda a razão de suas vidas. Ambos não são alunos brilhantes e querem seguir um destino escolhido por eles, assim como a irmã que não se casará com ninguém mais a não ser com o amor de sua vida. O que mais entristece o Duque é não ter conseguido passar seus valores centenários aos filhos. Eles jamais poderiam querer ganhar dinheiro de forma ilícita, em jogos, tirando dinheiro do bolso de quem tinha pouco. Seus milhões não lhe importam que paguem por essas pequenas fortunas perdidas, mas é a atitude mesquinha que mais o enfurece. Conde de Silverbridge entra para a política no partido Conservador, o mesmo de Tregear, sendo que a família havia sido Liberal por gerações seguidas. Além disso, apaixona-se por uma americana e quer se casar com ela. Todas essas dificuldades serão resolvidas de alguma maneira, mas o melhor da novela é como ele terá de começar um doloroso trabalho de autoconhecimento e de abertura para o qual não se encontra preparado. Seu caráter e sua rigidez com relação a casamentos mistos são muito cristalizados para que ele abra mão dessa prerrogativa milenar. Claro que aceita como amigo ou oponente um plebeu, mas isso nunca poderia ultrapassar as barreiras que enfraquecessem o sangue real. É uma novela belíssima, com a característica do escritor de conversar com o leitor e colocá-lo ciente de coisas já ditas e talvez não memorizadas, de arquitetar um espaço para que possamos usufruir de seu lado de comédia e encantamento. As posições políticas são muito bem descritas, sem terem, todavia, nenhuma prioridade, assim como os encontros nas caçadas, nos bares londrinos de endinheirados ou nos bastidores do Hipódromo e do Parlamento. É um livro afetuoso e de grande substância psicológica.
Sua primeira publicação foi em 1880 e é o sexto e último da série.